Foster the People incorpora rap e dance music para tentar virar 'Cavalo de Troia' do pop
Publicado em 07/08/2017 09:27
Música

 

 

O que está acontecendo com o Foster the People? Mark Foster ataca de rapper, usa seu falsete num refrão que poderia estampar um “featuring DJ Alok”, e encara a multidão curiosa pela nova turnê do terceiro disco, “Sacred Hearts Club”, no fim de tarde de sexta-feira, 4 de agosto, no Lollapalooza Chicago.

 

A banda que atrai fãs de “indie rock”, mas nunca quis ser muito indie e nem tanto rock, perdeu as estribeiras de vez? O título do disco em neon no palco indica que sim. Mas eis que Mark manda “Blitzkrieg bop”, dos Ramones, e puxa um “hey ho, let’s go” em Chicago.

 

Agora vale interrogação extra: o que está acontecendo com o Foster the People??

 

Uma pista para o curioso caso do Foster the People em 2017 está na conversa que o G1 teve com seu líder duas semanas antes do show. Sua resposta mais importante é que a banda quer ser um “Cavalo de Troia” no pop atual.

 

Traduzindo: o Foster quer cruzar a muralha das paradas de sucesso “disfarçada” de pop dançante, rap, EDM ou o que for, e lá dentro mostrar sua mensagem, que aí sim tem mais a ver com o tal indie e o tal rock. Não é por acaso que ele usava uma camisa com a frase “foda-se o racismo” no Lolla.

 

A banda se joga na pista, mas está de olho em um mundo que Mark vê como em retrocesso. Ele canta sobre não olhar para o dinheiro, mas sim para tragédias como racismo, homofobia e nacionalismo em ascensão.

 

Até a crise dos refugiados na Síria inspirou o novo disco, ele diz ao G1 - e ao público de Chicago, que ouve um discurso no show quase idêntico à resposta da entrevista. Ensaiadinho.

 

Mistério resolvido, mas nem tanto. Seria mesmo Mark Foster um punk por baixo da camisa polo? Coxinha com recheio de mortadela? A resposta depende do ouvinte.

 

E o brasileiro vai poder julgar com seus próprios olhos e ouvidos em breve. A banda quer vir pela terceira vez ao Lolla SP, depois de 2012 e 2015. Não tem nada fechado ainda, mas Mark diz que está “cruzando os dedos”. Leia a entrevista:

G1- Apesar de serem colocados na prateleira do indie rock, vocês nunca foram exatamente isso. Mas o novo disco está ainda mais distante. Por quê?

 

Mark Foster - Minhas bandas favoritas quando mais novo sempre extrapolaram gêneros, nunca ficavam na mesma pista. Se você olhar para os Beatles, sua progressão de banda pop para o rock e a psicodelia, as coisas orquestrais. Ou o Blur, Kinks, The Clash. Como compositor, é muito interessante explorar diferentes estilos. Eu ficaria entediado de ter que fazer a mesma coisa sempre.

 

G1 - “Pay the man” tem referência a um mundo atual difícil, mas é animada, otimista. Por quê?

Mark Foster - É isso mesmo. Essa música foi escrita na época em que a violência policial era um grande problema no meu país. As mortes de Eric Garner, Trevor Martin, o Black Lives Matter... A música fala em geral disso, mas também dizendo que apesar de todas as tragédias que estamos enfrentando pelo mundo, ainda há esperança. A vida continua linda, e o amor segue poderoso.

 

G1 - Quais tragédias, além da violência policial e do racismo?

"A crise de refugiados na Síria é horrível de assistir. O espírito de nacionalismo que tem crescido pelo mundo. Racismo, homofobia, machismo, todas essas coisas que eu achei que estávamos superando e evoluindo culturalmente, parece que voltaram de uma maneira forte".

"Loyal like Sid and Nancy" fala de muitas dessas coisas também. Com esse disco, como banda, queríamos fazer algo que desse esperança para as pessoas e as lembrasse que a vida é bela apesar de essas coisas que estão acontecendo. Que o amor é maior que a política.

 

G1 - “Doing it for the money” fala de não fazer as coisas por dinheiro, mas é uma música bem comercial. Essa ironia é proposital?

Mark Foster - Sim, cem por cento. Na maioria das canções pop e hip hop que estão no Top 10 pelo mundo a mensagem é tanto sobre querer ganhar dinheiro, ser o melhor, o mais legal, ter os carros mais rápidos. Achei que seria interessante escrever uma música que pega a mesma estética musical, mas colocar uma mensagem oposta. Então, de certa maneira, é um Cavalo de Troia.

 

G1 - Essa tarefa em “Doing It for the Money” deve ter sido mais fácil com o Ryan Tedder (do OneRepublic, também compôs para Adele, Maroon 5 e outros), né?

Mark Foster - Ryan escreveu um pouco da música comigo. Mas Isom Innis, Oliver Goldstein e eu produzimos. Ryan é um grande amigo. Começamos a música três ou quatro anos atrás. Originalmente era um beat que a gente estava fazendo para Lupe Fiasco quando ele estava trabalhando no seu disco, e eu acabei colocando na gaveta e esquecendo. Quando fomos fazer este disco decidi finalizá-la.

 

G1 - Você já dizia há tempo que o disco teria influência de rap. Em “Loyal like Sid and Nancy” (que cita o baixista do Sex Pistols, outra referência punk além dos Ramones no show), seu vocal se aproxima do rap. Deve ser difícil essa transição para um cantor melódico.

Mark Foster - Sim, foi difícil. Isom Innis começou o beat e quando eu ouvi a batida, era tão atonal e corajosa que eu queria ver o que eu podia fazer para incorporá-la ao mundo pop. E foi espinhoso, porque eu não queria parecer que estava tentando ser um rapper.

Nessa música tive que descobrir como fazer um vocal feminino, suave e rítmico para balancear com a letra pesada. Eu provavelmente cantei essa música umas cem vezes só para pegar o espírito do vocal. Essa foi provavelmente a música mais difícil do disco para finalizar.

 

G1 - Este disco faz imaginar uma turnê bem dançante. Como será? Vai incluir o Brasil?

Mark Foster - O disco tem muitas cores novas para se trabalhar ao vivo. E também com as coisas hip hop, mais rítmicas, há um elemento diferente para jogarmos.

"Eu espero ir ao Brasil em março, para o Lollapalooza e shows menores também. Queremos muito voltar para os nossos fãs aí. Amo tocar para os brasileiros, nossos shows aí foram alguns dos melhores que já fizemos. Não há nada confirmado, mas dedos cruzados".

 

Fonte: Portal G1 | Foto: Divulgação

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