Samba jovem de Pedro Miranda evolui bem em show com Sargento
04/08/2016 19:57 em Música

 

“Eu sou o samba velho e você é o samba moço, o samba jovem”, sentenciou Nelson Sargento, do alto dos 92 anos, após ser conduzido por Pedro Miranda ao palco do Teatro Sesc Ginástico, enquanto Miranda cantava a capella Flores em vida (1995), samba feito por Moacyr Luz com Aldir Blanc em tributo a Sargento.


A participação de Sargento valorizou a estreia nacional do show Samba original na noite de ontem, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Dirigido por Inez Viana, nome respeitado na cena teatral carioca, Pedro Miranda seguiu roteiro baseado no repertório do terceiro irretocável álbum solo do cantor, compositor e pandeirista carioca, projetado no Grupo Semente.


Sargento tem razão quando identifica juventude no samba de Pedro Miranda, artista de 40 anos. Miranda reverencia a tradição com toques de modernidade. A própria formação da banda exemplifica a mistura ao agregar músicos da escola tradicional, como o violonista Luís Filipe de Lima (competente diretor musical do show), com nomes da cena contemporânea carioca, casos do baterista Domenico Lancellotti e do guitarrista Pedro Sá.


Pedro Sá foi convidado a entrar em cena após a participação afetiva de Nelson Sargento, com quem Miranda fez dueto em Idioma esquisito (Nelson Sargento, 1976), Falso moralista (Nelson Sargento, 1972) e Cântico à natureza (Alfredo Português, Jamelão e Nelson Sargento, 1955), histórico samba-enredo da Mangueira, escola da qual Sargento é uma das mais altas patentes.

A guitarra de Pedro Sá acentuou o suingue de sambas como Batuca no chão (Assis Valente e Ataulfo Alves, 1944) – número assentado também na percussão de Beto Cazes – e Lola Criola(Geraldo Babão), pontos altos do ótimo show por conta da animação calorosa do baticum.

 

O samba jovem de Pedro Miranda evoluiu muito bem no palco, roçando a perfeição do discoSamba original. Miranda é cantor de divisão marota que descende da linhagem de bambas como Miltinho (1928 – 2014) e Cyro Monteiro (1913 – 1973), de cujo repertório, aliás, o intérprete pescou a pérola Meu pandeiro (1947), raro samba de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), composto pelo Rei do Baião com Ari Monteiro.


Ao vivo, fica mais nítido que sambas melancólicos como Imitação (Batatinha, 1971) são talhados para vozes dramáticas. Até porque, em cena, Pedro Miranda é o porta-voz da alegria e não faz drama. De todo modo, o cantor se saiu bem no número teatral que abriu o show. 

 

Miranda entrou em cena pela lateral do palco, com as cortinas ainda fechadas, para recitar os versos de O samba é meu dom (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro, 1996) – música cantada no fim do show – enquanto tocava com maestria o pandeiro que foi o passaporte para a entrada do artista no mundo do samba.


O toque vívido do saxofone de Eduardo Neves ajudou a ambientar Amanhã eu volto (Roberto Martins e Antônio Almeida, 1942) em salão de gafieira. Mais para frente, Samba de dois-dois(Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro, 2004) abriu a roda baiana em que também girou o samba-chula Pimenteira (Roque Ferreira, 2009).


O show Samba original atravessou fronteiras, mas o eixo é o Rio de Janeiro, cidade mapeada pelo choro-canção Santo Amaro (Luiz Cláudio Ramos, Franklin da Flauta e Aldir Blanc, 1978), número de tom mais intimista. Entre um giro e outro, o show – que volta ao cartaz em 16 de agosto, na sala Cecília Meireles, no Rio – confirma o grande momento do samba jovem de Pedro Miranda.

 

 

Fonte: Portal G1 - Foto: Divulgação

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