Oito e 80, Tom Zé faz 80 anos com o espírito artístico de menino de oito
Publicado em 11/10/2016 16:03
Música

Antônio José Santana Martins, vulgo Tom Zé, não nega a idade que tem. Mas o vigor juvenil na música e na vida nega a todo instante os 80 anos que este velho-sempre-novo baiano – nascido em 11 de outubro de 1936 na interiorana cidade de Irará (BA) – completa hoje.

Ovelha desgarrada do rebanho tropicalista do biênio 1967/1968, Tom Zé tem fôlego de erê. Tanto que decidiu comemorar os 80 anos de vida com recém-lançado disco sobre sexo, Para dançar o sobe ni mim – Canções eróticas de ninar – Urgência didática (Circus). Tom Zé – como mostra a foto erótica de André Conti – é o que não tem censura nem nunca terá. Uma eterna criança sem papas na língua e na métrica das canções.

Com obra que reverberou recentemente na trilha sonora da novela Velho Chico (TV Globo, 2016), o compositor sempre explorou o formato da canção. Estudou o samba em álbum de 1976 que o tempo se encarregou de dar o devido valor ao longo dos últimos 40 anos. Estudou a Bossa Nova em álbum de 2008 que se impôs instantaneamente como um dos títulos mais inspirados da brava discografia do artista.

Mesmo quando lançou discos menos sedutores, Tom Zé espalhou neles a chama da criatividade. Pelas ousadias artísticas, pagou preço alto.

Ficou um tempo esquecido até ser redescoberto no Brasil graças a um estrangeiro, David Byrne, que detectou na obra do artista rara inquietude. E foi assim, na rota inversa, dos Estados Unidos para o Brasil, que Tom Zé voltou à tona, em momento de fraqueza em que planejava desistir da música.

Em qualquer tempo ou lugar, a obra sempre esteve aí. Volta e meia, alguma cantora regrava alguma música dele – geralmente do cancioneiro lançado na década de 1970 – e aí o ouvinte descobre, surpreso, que Tom Zé nem sempre fez música difícil ou complicada, mesmo estando à margem do mercado. Mas que ninguém espere enquadrá-los, o criador e as criações, em moldes pré-fabricados. Tom Zé é do samba, é do rock, é das canções, é do baião. É, enfim, da música popular do Brasil.

Só que nunca fez o jogo para ser popular. Os jogos armados por Tom Zé são puramente estéticos. Como se a música fosse brincadeira de roda, em giro incessante.

Em suma, Tom Zé é um erê que se recusa a entrar na roda-viva dos adultos sedentos de glória, poder e fama. Por isso, até se poderia dar o direito de negar os 80 anos que faz hoje. Mas Tom Zé é a negação da afirmação do status quo. Ele se afirma criança na postura da vida e da música que resiste bem ao tempo.

Tom Zé é oito e 80. Cronologicamente, o corpo tem 80 anos a partir de hoje. Mas a alma do artista jaz livre como a de um menino de oito anos, embora Tom Zé seja paradoxalmente um senhor cidadão e um senhor artista – no sentido mais nobre dos termos.

 

 

Fonte: Portal G1 - Foto: Divulgação

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